CUT-UP, RESISTÊNCIA À SOCIEDADE DE CONTROLE

CUT-UP, RESISTÊNCIA À SOCIEDADE DE CONTROLE

As criações de Burroughs foram sempre um ato de resistência. Resistência que atuou em ‘limites do controle’. As criações de cut-up são bons exemplos disto. Exploravam outras vias para a criação literária. Exploravam as margens, os interstícios. Compunham um campo de trabalho desroteirizado, desprogramado – tentando se manter às bordas dos discursos científicos e literários, sendo reação ao ‘olho domesticado’, à sensibilidade que perdeu suas potências – e fazendo assim apelo a vida ainda sem deliberação, indiscernível.

Impossível? Talvez não. Basta pensarmos na efetividade de obras de outros nomes da língua inglesa, como Samuel Beckett e James Joyce. Mas a referida técnica não foi privilégio dos artistas. O cientista J. von Neuman tentou diversas vezes, antes, aplicar métodos cut-ups para alcançar formas randômicas de guerra. Para ele, a melhor forma dos EUA enfrentar a Guerra Fria poderia estar na total aleatoriedade das formas de ataque ao inimigo. Neuman lançou sua “Theory of Games and Economic Behavior” para explicar isso. Neste, encontramos ideias de variações, nomadismos a ser empreendidos em um lugar onde normalmente se predominou as ideias de linearidade e estratificação científicas. Suas ideias não alcançaram grande êxito na época, porém, hoje, esta é a própria natureza dos sistemas cibernéticos de guerra.

Nas artes, os cut-ups foram atitudes representativas da liberação cultural da década de 1960. O anseio estético era escapar dos “controles” por meio do recoletar, repetir, desconectar, dissociar. Os trabalhos de Burroughs influenciaram Deleuze & Guattari, em Mil Platôs. Eles referenciaram suas perspectivas não-lineares aos trabalhos do artista. E eles faziam isto tendo em mente as dobras possíveis nas formas de pensar e agir, assim como a valorização do trabalho colaborativo, o ato de escrever e filmar que se aproximar da liberação que obteve a pintura e da demarcação de um valor positivo à pluralidade de perspectivas e à quebra das estruturas fechadas da cibernética e da dialética.

No livro Third Mind, Burroughs escreveu livremente sobre como concebia o cut-up:

“That’s cut-up—a juxtaposition of what’s happening outside and what you’re thinking of. I make this a practice when I walk down the street. I’ll say, When I got to here I saw that sign, I was thinking this, and when I return to the house I’ll type these up. Some of this material I use and some I don’t. I have literally thousands of pages of notes here, raw, and I keep a diary as well. In a sense it’s traveling in time”.

The Third Mind é um pequeno livro constituído por Burroughs e o artista plástico e poeta Brion Gyson. Talvez o mais representativos das obras que utilizaram o método do Cut-up. Ambos ampliaram a estética para o cinema, em “The Cut-ups”.

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