LAZZARATO – “NEOMONADOLOGIA”, COOPERAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO

LAZZARATO – “NEOMONADOLOGIA”, COOPERAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO

Algumas passagens do livro “As revoluções do capitalismo” são notáveis.

Se estivermos, como disse LAZZARATO (2006, p.75), no tempo em que o acontecimento, a invenção e a criação transpõem muito o valor de uma simples exceção; isto é, se estavermos diante de um mundo no qual a produção dos desejos, das crenças e afetos passa longe de um papel simplesmente abreviado e antecedido à concepção e produção de bens materiais (do fazer econômico), então seria preciso realmente levar a sério a vida a partir da relação intrínseca entre o virtual e o atual e das expressões de subjetivações. Elas ganham maior força para explicação do mundo contemporâneo, que, de tal modo, “(…) cooperação entre subjetividades quaisquer precede a cooperação entre trabalho e capitalista” (idem, p.33).

Lazzarato, ao empreender uma revisão crítica do legado hegeliano-marxista, escapa de se apoiar no mundo epicêntrico, binário e monoesférico – para lembrar os termos de Sloterdijk – da identidade, contradição e totalidade. Um novo saldo surge então: valorizar os processos contínuos de (des)subjetivação, de agregação e multiplicidade.

Este novo saldo é significativo para entender uma grande ruptura com a “nostalgia da centralidade”. A formação societal, ao abarcar os fatores físicos, biológicos, tecnológicos etc. que agenciam o mundo, passa a ser cosmológica – ao invés de antropomórfica. A sociedade torna-se um ‘agregado qualquer’, isto é, “(…) uma composição de seres adaptados que ficam juntos, seja uns dos outros, seja em nome de uma função comum” (idem, p.51). A expressão estética paradigmática no mundo é o co-adaptar, o imitar, e não a originalidade, a aura e o excentrismo ao mundo. Sobre a criação, Lazzarato escreve:

“A invenção é uma cooperação, uma associação entre fluxos de crenças e de desejos, que ela agencia de uma nova maneira. A invenção é também uma força constituinte, pois ao combinar, ao agenciar, promove o encontro de forças que carregam em si mesmas uma nova potência, uma nova composição, fazendo emergir – e, portanto, atualizando – forças que eram apenas virtuais” (idem, p.44).

“A internet é uma malha de fluxos e de redes, sejam atuais ou virtuais. A atualização de uma rede depende da potência do agenciamento, da conexão que se faz aos poucos”.

“A neomonadologia permite-nos pensar, mas também por uma multiplicidade de mundos possíveis – o nosso mundo. Nosso tempo é o da explosão desses diferentes mundos que vêm se atualizar, o que nos leva a uma outra idéia da política, da economia, da vida e do conflito” (idem, p.39).

[LAZZARATO, Maurizio, As revoluções no capitalismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006].